top of page

VILA PARISI
(2019 / 2020 / 2022 / 2023)

capa-vp.png

synopsis

VILA PARISI is a theatrical production inspired by researches on life in a working-class neighborhood in the city of Cubatão-SP (Brazil), a place that became known worldwide as "Death Valley" in the 70s and 80s because of its location in the epicenter of an extensive industrial zone at that time. The play was developed under the conceptions of specific location/art in situ, formulating a performative play mixed with deeply popular narratives, being the first part of the trilogy industrial tragedies of the Colectivo 302.Talking about events that were collected in testimonies with old residents, we tried in some way to dignify the lives lived and lost and the lives destroyed by the progress machine. Symbolically and archetypally recovering people and facts from a moment in the history of the city and the country that powerful people tried to erase.Vila Parisi is a counter-manifest that somehow echoes today in the countless exclusion zones of Cubatão, Santos, Guarujá, São Vicente, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, and many other nameless cities, forgotten in a Brazil that seems had forgotten itself.  Running time: 120 minutes. Rating: PG-13

historical background

Premiered in July 2019, Vila Parisi began to be discussed during 2017 after the project Zanzalá part 1 been contemplated by the ProAc 09/2018 for unprecedented plays in the state of São Paulo. The performance is part of a theatrical trilogy project that tells the story of a city converted from a peaceful rural village into an industrial zone and the consequences of unplanned development in people's lives and biodiversity. The research is conceived from the access of historical records, reading of theses, articles, meeting with historians, defenders of historical heritage, and listening and recording testimonies of former residents of the working-class neighborhoods that make up the imagery of the trilogy. The conception of the play brought to the group new procedures of creation and production, the last part of the process was developed on site-specific, involving 29 professionals.

The play was in on a free season from July 13 to August 11, receiving an average of 1,500 people at a crossroads facing the industrial zone.

In January 2020, occurred two more presentations with an average of 150 people per session. Before the pandemic of covid-19, there were plans of selling new presentations that were suspended.

watch the teaser

sinopse

VILA PARISI é uma obra teatral inspirada em pesquisas sobre a vida no bairro operário da cidade de Cubatão-SP, local que tornou-se mundialmente conhecido como Vale da Morte nos anos 70 e 80 por se localizar no epicentro de uma extensa zona industrial da época. A peça desenvolvida a partir dos conceitos de local específico / art in situ, formula um teatro performativo mesclado a uma narrativa profundamente popular, sendo a primeira parte da trilogia de tragédias industriais do Coletivo 302. Contando eventos que foram colhidos em depoimentos com antigos moradores, tentamos de algum modo dignificar as vidas vividas e perdidas e as vidas destroçadas pela máquina do progresso. Recuperando de forma simbólica e arquetípica pessoas e fatos de um momento da história da cidade e do país que poderosos tentaram apagar. Vila Parisi é um contra manifesto que de certo modo ecoa hoje nas inúmeras zonas de exclusão de Cubatão, Santos, Guarujá, São Vicente, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e de muitas outras cidades sem nome, esquecidas em um Brasil que parece ter se esquecido de si mesmo.

Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 120 minutos

cast and crew

Direction: Douglas Lima | Direction Orientation: Eliana Monteiro | Dramaturgy: Cícero Gilmar Lopes | Dramaturge: Marcelo Ariel | Dramaturgical contributions: Coletivo 302 | Cast: Douglas Lima, Matheus Lípari, Sander Newton, Sandy Andrade and Tamirys O’hanna |Guest Cast: Alisse Ribeiro, Julia Transeunte, Letícia Luz and Maya Andrade | stagehands: Josué Salvino, Luana Laciny, Matheus Cordel, May Juvino and Rafael Almeida | Sound Research: Sander Newton | Vocal coach: Douglas Lima | Vocal coach orientation: Nailse Machado | Musicians: Daniel Meireles, Jaqueline da Silva, Marcozi Santos and Rodrigo Suzuki | Lyricists: Isabel Tavares, Sander Newton and Sandy Andrade | Sound production: Marcozy Santos and Sander Newton | Sound technician: Alisse Ribeiro and Sander Newton | Sound operation: Marcozy Santos | Research, design and lighting technician: Juliana Sousa and Matheus Lípari | Lighting operation: Juliana Sousa and Matheus Cordel | Scenography: Douglas Lima and Tamirys O’hanna | Cenotechnical: Írio Sandres | Costum design: Douglas Lima and Sandy Andrade | Dressmaker: Dudu e Reinaldo Trick | Graphic Designer: Lucas Bêda  | Communication: Allana Santos | Executive Production: Sander Newton and Tamirys O’hanna | Production assistance: Allana Santos and Sandy Andrade | Partnership: U [z] ina Utópica and Galpão Cultural | Conception and realization: Coletivo 302

guests' words

text available only in portuguese 

Por Eliana Monteiro

Em setembro de dois mil e dezoito, desço a serra do mar com destino a Cubatão, era a primeira vez que isso acontecia, pois essa cidade sempre foi vista por mim pela rodovia, e ao avistá-la os adjetivos que me vinham a mente ou que eu escutava sobre ela não eram nada convidativos a uma parada, mesmo que breve. Desta vez, a convite do Coletivo 302, eu não só faria uma parada turística, eu fui convidada a conhecer sua história real, o vale da morte, seus dragões que soltam fumaças pretas, amarelas e ao mesmo tempo muito fogo.

O que essa besta fera não sabia que ao soltar benzeno no ar, as crianças que conseguiram sobreviver, hoje são adultos guerreiros, que olham para o passado e decidem fazer sua encenação no Cruzeiro ao pé do animal.  

Quem é você Vila Parisi? Pergunta que investigamos por meses, esse coletivo, a vida toda, filhos de operários que migraram de suas cidades para Cubatão atrás de um sonho, mudarem de vida, quando ali chegaram o pássaro Guará Vermelho fazia o caminho oposto, estava migrando em busca de qualidade de vida. Os jovens desse grupo fazem a migração dos guarás, mas retornam como seus ancestrais, numa ida e vinda eterna.

Nesses tempos em que vivemos, percebo a urgência de investigarmos o passado, como arqueólogos, com cuidado para não danificar o que foi soterrado e ao estudarmos os materiais encontrados expô-los. Vila Parisi foi soterrada, concretada, pois seu papel foi o de laboratório a céu aberto, para saberem quanto tempo um ser humano resistiria a quantidade de benzeno e outros componentes químicos derramados em seus pulmões diuturnamente, o que não se esperava era à anencefalia. Ao trazer à tona assunto tão delicado em frente e em tempo real em que os poluentes rés estão sendo expelidos é um convite aos moradores da cidade a uma discussão do que ainda podemos fazer juntos.

Nem Vale da Morte, nem Inferno, nem Paris e nem Brasil ou *Weli miyaad halkan joogtaa, Vila Parisi?

* Você continua aqui, Vila Parisi? escrito em Somali

 

Por Marcelo Ariel

Essa peça sobre a Vila Parisi tem diversas camadas que durante o processo de dramaturgismo tivemos de desdobrar. Quatro delas são visíveis: a histórica, política, a psicológica e a filosófica e três exigem um esforço do olhar e do afeto: a poética, a urbanística e antropológica.  A política diz respeito a um processo ainda em curso de degradação da vida e do bem viver em Cubatão e região em nome de uma duvidosa autonomia política que jamais existiu, a Vila Parisi é a pedra fundamental nesse processo de degradação político-social que prova factualmente que é impossível haver sociedade se há conivência com a miséria extrema ou seja com a ausência de compromisso social. O povo de Cubatão jamais participou dos grandes lucros gerados pela perversa e feroz industrialização da qual foi e é vítima e ainda é refém. Apenas uma classe política que sempre se comportou como uma ave de rapina se beneficiou dessa injusta alienada e cruel situação que, mesmo hoje, no centro de uma crise sem precedentes, permanece a mesma.  Historicamente, a Vila Parisi, apesar da poderosa tentativa institucional de apagamento, resistiu a ser esquecida na memória, paradoxalmente nostálgica de quem lá viveu, os vários depoimentos da pesquisa de campo realizada pelos atores que deram origem aos exercícios e workshops que por sua vez , foram a base para a criação  do texto que foi trabalhado nos seminários  de dramaturgismo, comprovam isso e nosso maior desafio foi transcender a memória e essa densa nostalgia , que como uma neblina cobria a experiência fenomenológica do horror de  não apenas viver em um território insalubre como ser  cobaia involuntária de uma experiência, que em tudo se assemelha a do médico nazista Mengele: a da exposição deliberada de  seres humanos a condições limite com o intuito de ‘ estudar os efeitos ‘ de substâncias extremamente tóxicas nesse corpos. Nossa peça não contorna o cotidiano e suas vivências comunitárias, mas se debruça sobre estas duas dimensões, a do horror e a da vida em comunidade e neste viver e morrer antecipadamente costurados como num bordado químico, na perplexidade diante desse quadro esquecido da insônia da história estão as forças de indignação que movem cada gesto da nossa experiência cênica.

bottom of page